'Hexatamente' o futebol.

Malditos 75%! Meu aproveitamento de acertos no "Palpitômetro da Copa" na fase de grupos e nas oitavas de final, se repetiu nas quartas de final. Resultado: França, Inglaterra e Croácia classificados. Brasil eliminado e sonho do hexacampeonato adiado.
A Bélgica tem uma ótima seleção, composta por uma geração talentosa, com jogadores que vestem as camisas de importantes clubes europeus. O habilidoso Hazard (Chelsea), o goleador Lukako (Manchester United), o arqueiro Courtouis (Chelsea) e o maestro De Bruyne (Manchester City) são alguns dos principais nomes. Todavia, não são superiores ao selecionado brasileiro. Nem no papel e nem sequer o foram no confronto. Foram 27 arremates brasileiros contra 9 belgas. Por quê, então, perdemos?
Quem acompanha este blog ou minha conta no Twitter (@tsprato) sabe que não sou do tipo que caça às bruxas e procura culpados. Diversamente, me oponho a esses grupos, como fiz à imprensa nacional no episódio dos 7 a 1. Pressuponho sempre que o sucesso ou fracasso são produtos de uma série de fatores, simbióticos ou não. Portanto, vamos lista-los.
Primeiro, inegável e estatisticamente, a bola brasileira teimou em não entrar. Seja na bola que bateu em Thiago Silva dentro da pequena área e caprichosamente tocou a trave nos primeiros minutos de jogo; seja nas duas outras vezes que a bola ficou sem dono dentro da área belga, ainda enquanto o placar estava zerado, e não sobrou para nenhum pé canarinho empurra-la para as redes; seja no chute sempre preciso de Coutinho da entrada da área que Coutouis defendeu; seja nas duas finalizações de Douglas Costa pela direita que o goleiro belga espalmou, sendo que uma delas resvalou no pé do sempre oportunista Paulinho, mas não entrou; seja naquele chute de Renato Augusto em que a bola meticulosamente passou rente a trave, não empatando o jogo; seja na plástica e elástica defesa de Coutouis no chute final de Neymar. Simplesmente, aquela tarde brasileira estava mais para uma noite russa.
Segundo, ao sofrer o primeiro gol, numa fatalidade, com um desvio do nosso próprio jogador, a seleção brasileira sentiu o golpe. Por quinze a vinte minutos, nos desequilibramos psicologicamente. Neste tempo, com a defesa aberta e o time desorganizado, algo raro durante todos amistosos e preparação sob o comando de Tite, sofremos alguns contra ataques e, num deles, o segundo e decisivo gol. Tal fato era quase inimaginável para uma seleção com tamanha confiança, instruída pelo senhor Adenor, "o encantador de serpentes". Foi por pouco tempo, mas aconteceu. E o destino foi cruel, ao condescender que uma defesa que até então havia tomado apenas 6 gols em 25 partidas, sofresse 2 gols nestes instantes de instabilidade, numa partida eliminatória de Copa do Mundo.
Terceiro, como já havíamos pontuado aqui (post de 24/maio), Tite pecou na convocação. Preferiu manter-se fiel ao grupo que foi formando ao longo das eliminatórias (a famosa "panela"), a despeito da queda de rendimento e lesões de alguns jogadores, como o caso de Renato Augusto. Isto impediu de ser aproveitados na Copa ou não render o esperado. Além dele, Douglas Costa, Fágner, Neymar e Gabriel Jesus também passaram por lesões durante a temporada. Danilo se machucou durante a Copa. Daniel Alves antes dela, sendo cortado. Diante deste quadro e das escolhas de Tite, quais alternativas tínhamos no banco para o baixo rendimento de Paulinho? E para a reserva do contundido Danilo? E para o suspenso Casemiro? E o que dizer de Taison e Fred, fortemente contestados por este que vos escreve, para que serviram?
Quarto, e último, fator, o imponderável. Esta Copa é prova que o futebol permite surpresas. Desafia a lógica e desfaz previsões. Talvez por esse motivo, seja tão apaixonante. O gol contra de Fernandinho antes da metade do primeiro tempo é arte do imprevisível. Transformou o panorama do confronto. Transmutou a confiança de lado. Alterou a história da partida. Furtou o sonho do hexa.
Isso é futebol. Nem mais, nem menos.

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